MARTINS,
Ivanda. A literatura no ensino médio:
quais os desafios do professor? In: BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia.
(Org.) Português no ensino médio e
formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. P. 83-102.
Resenhado por: Adrielle Martins[1]
Eniê Miranda
Mariquel Dourado
Mônica Barros
Priscila Rocha
O
artigo “A literatura no ensino médio:
quais os desafios do professor?” de Ivanda Martins, faz parte do livro “Português no ensino médio e formação do
professor” organizado por Clécio Bunzen e outras autoras. É dividido em
sete pontos, em que a autora problematiza e questiona o ensino de Literatura no
ensino médio regular.
No
quesito um, intitulado Leitura da
literatura e ensino da literatura, Martins trás as principais problemáticas
referentes ao ensino da literatura e o motivo da mesma não despertar o
interesse pela leitura nos estudantes. Excetuando o trocadilho, ela trás
reflexões profundas à cerca do que falta para auxiliar essa prática pedagógica
no âmbito educacional. Um desses questionamentos é o fato de, na maioria dos
casos, a escola fazer uso da literatura apenas como pretexto para a
aprendizagem de outras disciplinas, como noções de gramática, por exemplo.
Ela
sinaliza para a diferença entre leitura da
literatura e ensino da literatura, usando
concepções de Beach e Marshall (1991), em que a primeira expressão estaria
relacionada “à compreensão do texto, à experiência literária vivenciada pelo
leitor no ato da leitura”, ao passo que a segunda “configura-se como o estudo
da obra literária, tendo em vista a sua organização estética”. A autora deixa
transparecer que esses dois conceitos estão intimamente ligados e, que para um
bom funcionamento da prática pedagógica na literatura é fundamental que um não
deve existir sem o outro.
No
quesito 2, Leitura, literatura e
interdisciplinaridade, Ivanda Martins sinaliza para a necessidade de
interdisciplinar a leitura à todas as áreas do conhecimento, pois a importância
da mesma é de suma relevância para se compreender aspectos sociais, culturais e
demais campos do saber científico. Concebe também de grande valor considerar as
condições de produção dos textos e de suas leituras. A autora relata ainda o
fato de que uma abordagem da literatura levando em conta aspectos como
intertextualidade, interdisciplinaridade, transversalidade e intersemiose
contribuem grandemente para que o aluno construa opiniões críticas a cerca de
textos literários.
No
quesito 3, Martins problematiza A
escolarização da leitura literária e diz que a mesma é dividida em dois
tipos, a que é condizente e eficaz às práticas de leitura e a que não contribui
e, às vezes, chega a afastar o estudante dos fenômenos literários por não
permitir uma abordagem crítica e que, em contrapartida, preza somente por
questões estruturais e gramaticais,
distanciando-os de uma escolarização literária adequada. Nesse tópico,
ela propõe uma reavaliação dos métodos de ensino da literatura e sugere que a
mesma seja trabalhada de forma lúdica e que seja considerada também a realidade
e bagagem de vida dos sujeitos aprendentes das leituras literárias.
No
tópico quatro, Literatura e escola:
relação marcada por mitos, a autora aponta que o ensino de literatura é
marcado por mitos que às vezes distanciam os estudantes das obras literárias
por eles considerarem de difícil acesso, tanto pela linguagem, quanto pelo
excesso de textos fragmentados dos livros didáticos e pela seleção de obras
canônicas não compatíveis com a realidade que o aluno está inserido. Ela resume
que as disseminações desses mitos propagam perspectivas ideológicas
preconceituosas que distanciam, mais uma vez, os sujeitos leitores.
Na
questão cinco, a problematização se dá em função do Ensino da literatura e novas tecnologias: qual o papel da escola? Ivanda
Martins diz que:
(...)
com o advento da internet, tanto a leitura literária como outras práticas de
leitura e de escrita estão assumindo novas funções, ou seja, estamos, aos
poucos ajustando nossas estratégias comunicativas e interativas.( MARTINS,
2006)
E
essa questão precisa ser elencada, pois a internet possibilitou muitos avanços
e forneceu subsídios para complementar os estudos, porém, precisa ser usada com
moderação sendo necessário adequá-la a educação e não o contrário acontecer.
Para isso, é importante que a escola elabore estratégias eficazes visando à
inserção da tecnologia à vida do leitor internauta de forma positiva, como se
diz, “juntar o útil ao agradável”.
E, finalmente, nos quesitos 6 e 7,
a autora apresenta sugestões metodológicas para os docentes reavaliarem suas
práticas pedagógicas, no intuito de estabelecer essa conexão entre a leitura
literária, a intertextualidade, as novas tecnologias e a escolarização da
mesma. Ela propõe técnicas possíveis e reflexões, tendo em vista a diminuição
da distância entre teoria e prática e, claro, trazendo as contribuições da
teoria literária, para atrelar à escolarização da literatura de forma dinâmica
e construtiva, que não privilegie apenas a história da literatura, mas a catarse
que a mesma é capaz de proporcionar.
Em
síntese, a escassez da prática da leitura de textos literários tem se tornado
uma preocupação, acredita-se que essa escassez ocorre devido às lacunas
deixadas pela falta de abordagens diversificadas, que façam com que o aluno
desenvolva uma compreensão do que seja este fenômeno chamado literatura. Toda
esta problemática tem tornado a aplicação de conteúdos literários cada vez mais
difícil, pois isso tem feito com que os alunos considerem a literatura como uma
coisa de outro mundo e de difícil compreensão, o que tem se tornado um
verdadeiro mito. Toda essa história de dizer que a literatura é muito difícil
tem ocorrido porque por parte da escola há o incentivo de leituras de textos
somente canonizados, obras consideradas clássicas, que não condizem com a
realidade do aluno e que são aplicadas de forma fragmentada.
O
educando deve ser incentivado para que possua maior interesse pelo ensino da
literatura e pela leitura literária. Dessa forma, os leitores passarão a
valorizar mais esses elementos. E com práticas inovadas e respeito pelo gosto e
vontade dos educandos o professor consiga abranger outras obras para as
leituras de forma que o aluno possa construir seu “próprio cânone” não
estabelecendo a literatura como uma forma de avaliação, mas transformando-se em
um leitor crítico, reflexivo e que tem prazer pela leitura. Portanto, o desafio
do professor é ajudar o aluno a compreender que os sentidos não estão já dados no
texto, mas são construídos a partir do encontro do leitor com o texto. Desta
forma, cada leitor possui a autonomia de dá significados possíveis ao texto.
Além
disso, as novas tecnologias também devem ser inseridas no ambiente formal de
educação, visto que é algo bastante atrativo aos jovens e, para que a literatura
não se perca nesses novos espaços, é necessário que seja pensado como isso pode
ser encaixado, de forma que o leitor compreenda que é capaz de produzir vários
sentidos diante das diversas leituras que lhes são propostas e possíveis. Pois
a literatura é ampla e prazerosa e possibilita uma interpretação diversificada
não apenas do que está escrito, mas sim do que pode-se inferir nas leituras,
além de possibilitar ao educando entender mais a si mesmo e ao mundo. Assim,
compreende-se que a literatura é interdisciplinar e abrange muitos assuntos,
pois não é algo limitado e estipulado, mas algo que permite a criatividade do
leitor e seu diálogo com outros textos escolhidos.
Com todas essas questões relatadas
por Ivanda Martins em seu artigo, o mesmo é recomendado aos futuros e atuais
docentes que se interessem em ensinar de forma eficaz a literatura, para formar
cidadãos críticos que pensem além do que está exposto na estrutura do texto, e
se atentem para as questões sociais, culturais presentes nas páginas de
romances, contos, crônicas, dramas, e demais gêneros textuais existentes.
[1] Graduandas do 4º semestre do
Curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências e
Tecnologias – Campos XVI – Irecê/BA.